Já tem um tempo que quero falar sobre os enganos do legalismo, e como isso afetou minha vida em todos os sentidos. E, agora, lendo alguns versículos de Romanos, encontrei palavras que pareciam descrever claramente minha experiência.
“Mas, se por causa da comida se contrista teu irmão, já não andas conforme o amor. Não destruas por causa da tua comida aquele por quem Cristo morreu. Não seja, pois, blasfemado o vosso bem; Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo. Porque quem nisto serve a Cristo agradável é a Deus e aceito aos homens. Sigamos, pois, as coisas que servem para a paz e para a edificação de uns para com os outros. Não destruas por causa da comida a obra de Deus.” (Romanos 14:15-20)
Quem acompanha meus blogs, principalmente o Sonhando na Contramão, pôde acompanhar um período em que passei a escrever muito, e a criar discussões aqui, sobre questões do judaísmo messiânico. Isso aconteceu entre o ano passado e início deste ano. Muitas coisas foram abordadas, como as celebrações das festas judaicas, a necessidade de guardar os mandamentos da lei de Moisés, a observação do Sábado, questões alimentares e a utilização de termos e nomes judaicos no lugar das palavras usadas em português. E eu, durante muito tempo, defendi todas essas coisas.
Mas acontece que as coisas mudaram drasticamente em minha vida neste ano, e eu não receio em afirmar que Deus abriu os meus olhos. Aquelas palavras que Paulo falou aos Romanos, foram as coisas que o Senhor falou, e tem falado a mim. Não apenas em relação a “questões judaizantes”, mas também outras questões, como a própria modéstia, que me fizeram conhecer a natureza legalista que existe em mim, o risco de sermos transformados em fariseus que existe em todos nós.
Sim, em todas essas coisas, principalmente na mentalidade de que eu deveria defender os conceitos do judaísmo messiânico, que parecem tão corretos e dignos de apreciação, e na forma como passei a entender modéstia como regras com uma importância acima de muitas coisas, eu me tornei legalista. Me vi nitidamente como os fariseus sobre os quais a Bíblia fala. Pude entender o que Paulo falou sobre seus irmãos israelitas, quando disse que eles têm zelo pela Palavra, porém sem entendimento. É isso mesmo. Eles conheciam e defendiam a letra da Lei, mas não o Espírito da Lei. E zelo sem entendimento, e letra sem espírito, só podem gerar morte. Por isso Paulo repete tanto que a Lei leva à morte, mas a Fé, pela Graça de Deus, gera vida.
Pela Graça de Deus, e somente por isso, eu pude compreender todas essas coisas, e olhar pra minha própria vida e ver como isto era realidade em mim. Nestes versículos do capítulo 14 de Romanos, Paulo fala sobre o cerne da vida cristã: AMOR! Ele fala que este deve ser o fim de tudo aquilo que fazemos: o amor a Deus E, com importância imensa, o AMOR POR NOSSO PRÓXIMO! É o que tenho entendido nestes últimos tempos: nossa vida cristã deve estar baseada em amor, em RELACIONAMENTO com os outros. Nossa pergunta deve ser: a fé que tenho vivido e defendido tem me aproximado ou me afastado das pessoas? Tem construído relacionamentos ou destruído-os?
Todo o meu zelo pela “Lei” (a LETRA da Lei), todo o meu zelo pelos “autos-padrões” de modéstia com todas as suas regras, me levaram a um fim horrível: me afastei das pessoas mais preciosas de minha vida, e afastei as pessoas que me amavam de mim. Tornei as minhas “regras” pedras de tropeço nas vidas daqueles que me cercavam, magoei os que estavam comigo, quebrei relacionamentos e me isolei... porque eu achava que minha obrigação era “defender a Lei”, e se as pessoas não concordavam com isso, eu não podia fazer nada. Eu não entendia.
Uma coisa que preciso dizer é que minha motivação realmente era servir a Deus integralmente. Eu achava que defendendo o “Shabbat”, as “Festas Bíblicas”, as “Comidas Puras”, os “Nomes Originais do Hebraico”, eu estava sendo mais fiel a Deus, pois queria observar a Sua Palavra em TODOS OS ASPECTOS. Como eu entendo os fariseus agora. Eles eram tão dedicados em não deixar passar nem uma vírgula sequer da Lei, não se afastar nem um centímetro das ordens da Lei, que chegavam a aumentar as exigência que a Lei fazia... mas, com todo esse zelo, eles esqueceram da essência. E foi por isso que o Messias nos foi enviado. Jesus nos revelou a essência: o AMOR.
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.” (I Coríntios 13:1-3)
Eu já fiquei muito triste, decepcionada comigo mesma por ter caído nos enganos do legalismo, e pelos frutos que isso gerou no meio de minha família e de meus amigos mais próximos. Eu os feri muito em função disso. Fiquei triste e preocupada pelas defesas que fiz baseada em legalismo nos blogs, e pela possibilidade de ter influenciado vidas a serem enganadas pelo legalismo também. Mas, tenho aprendido que todas as coisas têm o seu propósito determinado, e que Deus permitiu (se não planejou) que eu passasse por tudo isso. Porque, por meio de meus erros, aprendi, e hoje posso falar com mais propriedade sobre os perigos disso. Tenho conversado com amigos que passaram por situações muito semelhante, e visto os caminhos que outros tomaram, e cada vez mais me convencido das ciladas que tudo isso caracteriza. Por isso, dou graças a Deus
por poder testemunhar a esse respeito hoje e, quem sabe, ajudar alguém que esteja passando por algo parecido. Que o nome do Senhor seja glorificado em tudo isso.
Ainda gostaria de salientar que não acho que todos, ou os principais, conceitos do judaísmo messiânico sejam errados em si mesmos. Eles não são. Como Paulo disse aos Romanos, a Lei é Santa e Pura e Boa. No entanto, o pecado que habita em nós se aproveita da Lei para nos enganar. O legalismo faz parte de nossa natureza caída. Foi por isso que os israelitas viveram e ainda vivem tão zelosos pela lei, mas tão distantes da essência da Fé: a Graça de Deus. E é por isso que escrevo todas essas coisas. Os enganos do legalismo são sutis, muitas vezes têm capas tão bonitas, discursos que parecem tão corretos... foi assim que me senti! Mas, uma coisa aprendi: nossos olhos precisam estar fixados na Graça de Deus, na redenção de Cristo em Sua cruz e ressurreição, e no Amor que nos foi ordenado por Ele. Toda doutrina que nos desvia destas coisas, acabará nos levando aos enganos do legalismo de alguma forma.
A Cruz de Cristo não precisa de adicionais ou complementos. É da mensagem da Cruz, que fala sobre a graça infinita de Deus para conosco, e do Amor que Ele quis nos ensinar, que nós precisamos. Tomemos cuidado com toda e qualquer coisa que queira substituir esta mensagem.
Por estes motivos, estou retirando do blog, tão rápido quanto tenho conseguido, os posts em defesa do judaísmo messiânico, bem como termos hebraicos. Gostaria de fazer isso com maior rapidez, mas não tem sido possível. Por isso, peço que desconsiderem estes termos quando lerem os posts passados, e compreendam tudo o que aconteceu. Novamente, não estou condenando o uso destes termos, o problema não está neles em si, mas na mensagem que eles podem passar – uma doutrina que vai além da Cruz de Cristo e que desvia nossos olhos dela. Como Paulo disse, não é de comida, nem de bebida, [e eu acrescentaria: nem de dias, nem de que idioma usamos para nos referir ao Senhor, nem de que festas celebramos...] que se constitui o Reino de Deus, mas de justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo. De amor. De relacionamentos construídos, de ações baseadas na edificação dos outros, e não em nós mesmos.
Estou aprendendo...
Que a Graça de Deus, no Espírito Santo que nos foi concedido, continue a nos ensinar, abrir nossos olhos e nos livrar das ciladas...
"Para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro" (Efésios 4:14)
Soli Deo Gloria.