terça-feira, 30 de novembro de 2010

O Perigo de um Mau Instrutor

[Por: Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho]

Pastoral do boletim da IBC de Macapá, 28.11.10


Manhã cedo, vinha para a igreja, com Meacir. A Av. Pe. Júlio é nosso caminho (cá pra nós: a Lagoa dos Índios é linda!). Em frente ao Santa Lúcia há uma faixa de pedestres e um deles a atravessava. O Ford Ka branco parou em cima da faixa. Já vinha irregularmente, sobre a divisória entre duas pistas de rolamento. O motorista falava ao celular. O pior: era um veículo de auto-escola. Não é à toa que o trânsito é como é. Os instrutores não praticam o que ensinam. Assim, há alunos que aprendem macetes para conseguir a habilitação, mas que não sabem dirigir. Apenas fazem o carro andar. Os instrutores são cegos guiando cegos. Bem disse Jesus: “… se um cego guiar outro cego, ambos cairão no barranco” (Mt 15.14).

Na vida espiritual isso é terrível. A igreja de Jesus deveria ser modelo para o mundo, mas padece dos mesmos problemas do mundo. Deveria instruí-lo no caminho do Senhor, pois o conhece, mas o transgride. Parte da desorientação do mundo se deve à falta de sinalização clara por parte da igreja. Os crentes brigam por picuinhas, as igrejas se dividem por estilo musical e lutas por poder, têm rachas por liderança e dinheiro. Depois dizem ao mundo que “Jesus dá paz”. O mundo olha para a igreja e vê gente briguenta! Vê gente na trincheira, defendendo seus pontos de vista com unhas e dentes, e usando Deus como pretexto. Não a leva a sério.

Um instrutor de trânsito deve cumprir o que ensina. E a igreja deve viver o que prega. Veja esta dura crítica de Paulo aos judeus: “Mas se tu és chamado judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus; e conheces a sua vontade e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído na lei; e confias que és guia dos cegos, luz dos que estão em trevas, instruidor dos néscios, mestre de crianças, que tens na lei a forma da ciência e da verdade; tu, pois, que ensinas a outrem, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas? Tu, que dizes que não se deve cometer adultério, adulteras? Tu, que abominas os ídolos, roubas os templos? Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei? Assim pois, por vossa causa, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios”(Rm 2.17-24). Tire “judeu” e coloque “cristão”. Tire “lei” e coloque “evangelho”. Não nos diz respeito?

A questão é: vivemos o evangelho? Internalizamos em nossa vida as exigências do reino ou as formulamos para os outros? Seguir a Cristo é muito mais que ter uma passagem de primeira classe por este mundo, buscando bênção e cantando que “nenhum mal chegará à minha casa”. É aceitar o chamado para a santidade!

Generalizar é problemático, mas a radiografia da igreja evangélica no Brasil é de uma igreja doente. Ela tem elefantíase e pensa que é forte. Sofre de DDA (Distúrbio de déficit de atenção) e pensa que é ativa no Senhor. Confunde barulho com santidade. Sabe o que deve fazer e diz aos outros, mas nem sempre faz.

Precisamos de membros de igrejas saudáveis. Comprometidos, misericordiosos, envolvidos com o reino e solidários com o todo. Há muitos queixosos e poucos engajados. Não “queime” a faixa, não ande em duas pistas e não se distraia. Sabendo o que deve fazer, faça-o. “Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes” (Jo 17.13).

 

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Afinal, o que é um Evangélico?

[Por: Isaltino Gomes Coelho Filho]

Pastoral do boletim da Igreja Batista Central de Macapá, 21.11.10


"Convidei alguém, em Macapá, a vir à igreja. Ele me disse que era evangélico. Perguntei qual sua igreja, pois não pesco em aquário. A resposta foi: “Renovada. Sou avivado!”. Perguntei onde ficava o templo de sua igreja. Não sabia. Morava em Macapá há dois anos e desconhecia o grupo do qual dizia ser. Afastara-se da igreja, deixara a esposa, vivia maritalmente, e cheirava a fumo e álcool. Mas era “avivado”.

Tive que lhe dizer: “Você não é avivado. É desviado do evangelho”. Um avivado não ama o pecado: “Quem é filho de Deus não continua pecando, porque a vida que Deus dá permanece nele. E ele não pode continuar pecando, porque Deus é o seu Pai” (1Jo 3.9). As pessoas se ligam em rótulo, não em conteúdo. Para elas, ser avivado é gritar no culto. Uma vez, uma senhora me disse que era da igreja que cria no Espírito Santo. Perguntei: “O que é o Espírito Santo?”. Ela me disse que era o poder de Deus na sua vida. Disse-lhe que não era isso. Era uma pessoa divina, que convence do pecado, da justiça e do juízo, que nos converte, mostra-nos Cristo, nos ensina as Escrituras, trabalha em nós produzindo santificação, e nos aproxima de Deus. Não era fio desencapado, dando choque nas pessoas para se agitarem. Ela deveria colocar sua fé em Jesus, o nome sobre todo o nome, Senhor e Salvador, sentado à destra de Deus, que voltará em poder e glória para julgar o mundo. Acuada, ela disse: “O senhor fique com a Bíblia e eu fico com o Espírito Santo”. E fechou a cara quando eu disse que só há um Espírito Santo, o da Bíblia. Sem a Bíblia nada sabemos. Ela é a revelação de Deus ao homem. A mulher idealizara um espírito do seu tamanho, mas não o Espírito Santo.

Ser evangélico não é optar por um estilo de liturgia expansiva e achar que as demais são frias. É como disse Jesus: “As minhas ovelhas escutam a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna, e por isso elas nunca morrerão. Ninguém poderá arrancá-las da minha mão. O poder que o Pai me deu é maior do que tudo, e ninguém pode arrancá-las da mão dele” (Jo 10.27-29).

Um evangélico ouve a Cristo e se compromete com ele. Tem certeza da salvação, e persevera. É a segurança eterna do salvo: salvo para sempre. O homem não é o sujeito da salvação, mas o objeto. Ele não se salva. É salvo por Cristo. Ninguém o tira das mãos de Jesus e do Pai. Ele quer ser santo: “E todo aquele que tem essa esperança em Cristo purifica-se a si mesmo, assim como Cristo é puro” (1Jo 3.3). Ser evangélico não é ser barulhento. É ter caráter: “Mas não foi essa a maneira de viver que vocês aprenderam como seguidores de Cristo. Com certeza vocês ouviram falar dele e, como seus seguidores, aprenderam a verdade que está em Jesus. Portanto, abandonem a velha natureza de vocês, que os fazia viver uma vida de pecados e que estava sendo destruída pelos seus desejos enganosos. É preciso que o coração e a mente de vocês sejam completamente renovados. Vistam-se com a nova natureza, criada por Deus, que é parecida com a sua própria natureza e que se mostra na vida verdadeira, a qual é correta e dedicada a ele” (Ef 3.20-24).

Isto é um evangélico. Nisto crê um evangélico. O resto é invenção. Porque barulho sem caráter é inútil."


sábado, 20 de novembro de 2010

Digno é o trabalhador do seu salário



"Digno é o trabalhador do seu salário" (Lucas 10.7)

Ninguém trabalha de graça. Seja no que for que você é formado, em que tipo de atividade você invista seus dons e energias, seu trabalho merece remuneração, e você trabalha esperando a adequada remuneração. É assim com todo mundo. Por mais generoso que você seja, após ter investido seu tempo e seus recursos em uma determinada formação, você espera receber o seu retorno também.

É interessante que, mesmo referindo-se aos pregadores ou obreiros do Evangelho, Jesus fala isso. “Digno é o trabalhador do seu salário”. Essa é uma verdade. Mas muitos, para não dizer a maioria, dos cristãos de nossos tempos têm se esquecido disto todas as vezes que recorrem à pirataria para adquirir seus CD’s, DVD’s, filmes, livros tão desejados.

Não bastasse a pirataria ser CRIME declarado pelas leis internacionais e, portanto, todo aquele que a comete é considerado um criminoso – papel que não deve ser vivido por nenhum cidadão direito, quanto menos por um cristão - , temos esta declaração de Jesus, e mais muitas outras verdades bíblicas que condenam claramente essa prática.

Em nada você seria justificado se chamasse um eletricista pra fazer um serviço em sua casa e, ao final do trabalho, dissesse pra ele que não poderia pagá-lo porque não tem dinheiro. Você terá o enganado e roubado o seu direito se receber seu salário. Se você não tem dinheiro para pagar o serviço de um eletricista, você simplesmente não o contrata. Se você não tem dinheiro para comprar um remédio quando está doente, você não entra numa farmácia e rouba o medicamento porque você está necessitado. Sua necessidade e sua falta de recursos para suprí-la jamais justificariam um roubo. E quando você contrata o serviço e não paga devidamente por ele, você está roubando.

Pirataria é isso! Não sei se nos lembramos, quando fazemos uma cópia pirata do CD, DVD ou livro que tanto gostamos, que para que aquele material fosse lançado, algum TRABALHADOR teve que investir nele – seu tempo, energias e recursos. Da mesma forma como um médico, jornalista, pedreiro investem em seus ofícios. O cantor ou o escritor que produziram seus materiais também são trabalhadores dignos de seus salários. Aquele CD não chegou às lojas caído do céu. Houve investimento nele e, por isso, usufruí-lo tem um preço.

Se o preço de um serviço é caro ou não, isso também não lhe dá direito de deixar de pagar por seu uso. Quem define quanto irá cobrar por seu atendimento é o profissional e não o cliente. Ou, por acaso, você chega na escola do seu filho e é você quem escolhe quanto irá pagar de mensalidade? Se você não tem condições de pagar por uma certa escola, então você procurará uma que custe menos e esteja dentro de suas condições. Se você vai em uma loja comprar uma televisão e acha que ela está muito cara, você não simplesmente a rouba e leva pra sua casa de presente. Isso é crime! E é por isso mesmo que pirataria também é crime!

Se você não tem dinheiro para comprar o novo CD ou DVD da sua banda favorita, você não o compra! É simples assim. Quando você tiver condições de adquirir aquele bem, de pagar por aquele serviço, você vai lá e adquiri-o. Se você não tem condições de comprar aquele livro maravilhoso que seu amigo tem, você pede o livro emprestado, lê e depois devolve ao dono (que pagou o preço que era devido àquele bem!). Sua falta de dinheiro não justifica que você tome posse ou faça uso de um bem pelo qual você não pagou o preço devido. Se você faz isso, você está roubando.

Sua “boa motivação” também não justifica que você faça seu algo pelo qual você não pagou. Se é meu aniversário e você, por tanto gostar de mim e saber como quero ganhar uma bicicleta, quer me dar esse lindo presente, mas não tem dinheiro para compra-lo, não é por isso que você entrará numa loja de bicicleta, rouba uma e satisfaz meu desejo ou necessidade. Quem faria uma coisa dessas e se acharia puro e inocente?

Gente, é assim que nos comportamos todas as vezes que emprestamos um CD, um DVD, um livro ou qualquer outra coisa que seja, que foi produzida por um preço e, portanto, tem um custo, e fazemos a "nossa cópia",e usufruímos disso sem lhe dar o pagamento correto. Quando, sem intenção de prejudicar alguém (no caso, o produtor do material), muitas vezes até com a intenção de “abençoar alguém”, baixamos algumas musiquinhas da internet, gravamos um lindo CD e damos de presente pra alguém. Quando tiramos xerox dos nossos livros preferidos. Meus irmãos, ISSO É PIRATARIA!

Pirataria não é apenas você ir em um vendedor de “artigos piratas” e comprar uma dúzia de CDs por R$20,00, ou então você fazer cópias de materiais para vender. Segundo o Fórum Nacional Contra a Pirataria e Ilegalidade (FNCP), “De acordo com o CNCP (Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delitos contra a Propriedade Intelectual), entende-se por pirataria a violação aos direitos autorais de que tratam as Leis nº 9.609 e 9.610, ambas de 19 de fevereiro de 1998.”. Portanto, todas as vezes que você faz uso de produtos protegidos por direitos autorais sem ter pago o preço cobrado pelo mesmo, de acordo com seus autores ou produtores, você está cometendo pirataria.

Se o autor ou produtor decidir não cobrar nada por seu serviço ou produto, muito bem. Seja livre e feliz em usufrui deles! Principalmente no meio cristão, muitos cantores ou autores liberam suas obras para download e estimulam sua distribuição. Fazer isso, portanto, não viola seus direitos autorais. Mas, caso não haja uma liberação direta nesse sentido, o produto precisa ser adquirido mediante pagamento de seu preço.

Você não tem dinheiro? Contenha-se com o que pode obter, então. Digno é o trabalhador de seu salário. Não roube-o isso.

Ser cristão envolve cada pequeno detalhe de nossas vidas. Honremos a Deus com cada um deles.

A graça e a paz do Senhor!



quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Dor e Alegria: Este Ciclo Constante

Revelações do amor divino

[Juliana de Norwich]

"Ele me mostrou um grande prazer espiritual sentido na alma, e nele eu estava repleta de eterna certeza, firmemente sustentada, sem nenhum terror doloroso. Esse sentimento era tão positivo e espiritual que eu estava inteiramente em paz, em calma e em repouso, de modo que nada na terra poderia me perturbar.

Isso durou pouco tempo. Depois fui transformada e abandonada à depressão, cansada da vida e aborrecida comigo mesma, de forma que só foi só a duras penas que preservei a paciência para continuar vivendo. Eu não tinha nenhum conforto, nenhuma calma exceto a fé, a esperança e a caridade, e essas eu tinha de fato, embora muito pouco as sentisse.

Imediatamente depois disso, o Senhor deu-me de novo conforto e repouso da alma, com prazer e certeza. Sentia-me tão abençoada e poderosa que nenhum terror, nenhuma mágoa, dor física ou espiritual que eu pudesse suportar poderia me abater.

E depois a dor voltou aos meus sentimentos, novamente seguida de alegria e prazer - primeiro uma coisa, depois a outra, em vinte ocasiões diferentes, calculo eu. Nas ocasiões de alegria eu poderia ter dito como São Paulo: "Nada me separará do amor de Cristo". E na dor poderia ter dito: "Senhor, salva-me. Estou perecendo!".

Essa visão foi-me concedida a fim de ensinar-me que para algumas almas é proveitoso provar essas alterações de estado de espírito - às vezes para receber conforto ou para minguarmos, ficando à mercê de nós mesmos. Deus quer que saibamos que ele sempre nos guarda igualmente a salvo, quer no mal-estar quer no bem-estar."


[Retirado do livro "A Biblioteca de C. S. Lewis: Seleção de autores que influenciaram sua jornada espiritual", de James Stuart Bell e Anthony P. Dawson - Editora Mundo Cristão. Pag. 17]